Quando Cancer, o Caranguejo, situava-se no lugar do Solstício (Verão para o hemisfério norte e inverno, para o hemisfério sul)


http://www.raremaps.com/gallery/detail/27996/Cancer_Stars_heightened_in_gold/Hevelius.html

Map Maker: Johannes Hevelius

Fine example of Johannes Hevelius's chart of Cancer and surrounding constellations, from his highly importantFirmamentum Sobiescianum sive Uranographia.


Quando Cancer, o Caranguejo, situava-se no lugar do Solstício
(Verão para o hemisfério norte e inverno, para o hemisfério sul)

Janine Milward



Câncer é uma antiga constelação e uma dentre as doze que fazem parte do Zodíaco.  Há muito tempo atrás, essa constelação atuava enquanto pano de fundo para o Sol quando este atingia o solstício do verão, sua elevação máxima sobre o equador celestial - na latitude 23.5 Norte e este lugar foi conhecido como o Trópico de Câncer.  O movimento de Precessão deslocou este ponto para agora situar-se na fronteira entre Gêmeos e Touro.

A origem desta constelação é duvidosa.  Alguns autores associam-na à semelhança do movimento do Sol, no solstício de verão, com o modo de andar do caranguejo (porque, neste momento, existe a parada aparente do andamento do Sol, em sua extremidade máxima de andamento para o nordeste/noroeste, e seu retorno de andamento aparente até alcançar o solstício do inverno, em sua extremidade máxima de andamento para o sudeste/sudoeste.


Richard Hinckley Allen, Star Names, Their Lore and Meaning, Dover Publications, Inc, New York, USA 














Richard Hinckley Allen, em seu famoso e importantíssimo livro
Star Names — Their Lore and Meaning -,
nos revela algumas informações interessantes sobre a nomeação de Cancer, o Caranguejo, em relação à esta sua posição de destaque na ocupação do lugar do Solstício de Verão/Inverno, durante a Era de Áries bem como anteriormente e posteriormente a este tempo:

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Cancer é a constelação menos proeminente do Zodíaco.  A mitologia desculpa-se em ter colocado Cancer no céu através a estória de que quando o Caranguejo foi esmagado por Hercules – por agarrar-se em seus pés durante sua luta com a Hydra, em Lerna -, Juno exaltou o Caranguejo colocando-o no céu.   No entanto, poucos signos celestes têm sido objetos de mais atenção naqueles tempos do passado e poucos também tão determinados – porque, de acordo com os Caldeus e a filosofia platônica, Cancer era considerado como o Porão dos Homens, através o qual as almas desciam do céu para se tornarem corpos humanos.

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Diz-se que Cancer teria sido considerado pelos Arcádios como o Sol do Sul – talvez por sua posição no solstício do inverno em remota antiguidade.  Porém, mais tarde, foi associado com o quarto mês Duzu – nossos Junho/julho – e era conhecido como o Portão Norte do Sol, onde esse luminar começa seu movimento de retrogradação. 

Kircher disse que no Egito Coptico, esta constelação era denominada como o Poder da Escuridão; La Lande identificou esta questão como Anubis, uma das divindades do Nilo comumente associada com Sírius.  Porém os Judeus julgaram esta constelação representando a tribo de Issachar, a quem Jacob aliou ao jumento poderoso – ao qual os dois Aselli representam (as duas mulas) enquanto Dupuis afirmou que este último título foi derivado desta associação Judaica.

Uma crônica saxônica datada de cerca o ano 1000, tinha Cancer que é Crabba – o Caranguejo.  Chaucer escreveu Cancre – provavelmente um relicário dos dias anglo-normânicos, porque em seu tempo esta constelação era chamada de Canser.  Milton denominou esta constelação como O Caranguejo do Trópico – pelo fato de que marcou um desses grandes círculos.

Não apresentando mais do que algumas poucas estrelas e tendo sua estrela-alpha não alcançado mais do que a quarta magnitude, foi considerada esta constelação como Signo da Escuridão, muitíssimo descrita como negro e sem olhos.  Dante, aludindo esta carência de iluminação e sua alta posição nos céus, escreveu em seu Paraíso:

Thereafterward a light among them brightened,
So that, if Cancer one such crystal had,
Winter would have a month of one sole day.

A partir de então, uma luz brilhou entre eles, de forma que, se Cancer fosse um cristal, o Inverno haveria de ser como um mês de um dia somente.


Jensen denominou Cancer como a Tartaruga da Babilônia e da mesma forma esta constelação foi figurada no Egito em 4000 AC – apesar de que, nas inscrições egípcias de cerca de 2000 AC, esta constelação foi descrita como o Escaravelho, sagrado, assim como seu específico nome sacer significa e considerado um emblema de imortalidade. Também esta constelação foi considerada pelos Gregos como um ninho de terra em suas garras, uma idéia que continuaria a ocorrer até inclusive o século XII, quando um manuscrito astronômico ilustrou uma espécie de besouro de água.
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Caesius denominou esta constelação como Couraça da Justiça, em Ephesians vi.14; enquanto Presépio e Jumentos formavam a Manjedoura de Jesus Menino, com o burro e o boi aparentemente de pé.  Julius Schiller disse que tudo na constelação representava São João, o Evangelista.

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Movimentos: tudo sempre se move

Estarei repetindo aquilo que recebi em Fórum na Internet, parte da Aula 2 sobre Movimentos do Céu, by dario.rostirolla@londrina.pr.gov.br:

“Como é sabido, a Terra apresenta dois movimentos básicos (e outros): rotação (em torno do próprio eixo, com período de 1 dia) e translação (movimento orbital ao redor do sol, com período de 1 ano). Enquanto gira ao redor do Sol, a Terra percorre em sua órbita cerca de um grau por dia - logo, as estrelas se adiantam um pouco com relação ao Sol (como um carro que se aproxima de uma esquina e obtém melhor visibilidade), cerca de 4 minutos. É esta a causa da pequena diferença entre o dia solar e o dia sideral.

No decorrer de um ano a Terra percorre 360 graus ao redor do Sol, de modo que as estrelas que se encontravam ocultadas pelo Sol, dentro de algum tempo se tornarão visíveis em função do deslocamento da Terra sobre sua órbita. Ao longo do ano, diferentes partes do céu vão se tornando visíveis em determinado horário fixo (digamos, logo após o pôr do Sol), de modo que toda a esfera celeste vai sendo avistada ao longo do ano, setor por setor. A cada ano, esse movimento se repete de modo que as constelações visíveis numa determinada data serão visíveis na mesma data dos anos subseqüentes.”

A precessão dos Equinócios é o movimento que estaria aglutinando, digamos assim, ambos os movimentos anteriores: o de rotação e o de translação. 

Não podemos nos esquecer que a Terra gira em torno de seu eixo sim, porém com uma inclinação de 23 graus....  Ao mesmo tempo, a Terra perfaz um passeio de 360 graus em sua órbita em torno ao Sol.  Ao mesmo tempo, também o Sol vai realizando seu próprio andamento e o faz em direção a um ponto próximo  à constelação Hercules.  Tudo no universo se movimenta... por que deixaria nosso Sol de fazer o mesmo?

Ao longo do período de 26 mil anos, esse eixo da Terra em movimento de rotação e de translação e atrelado ainda ao movimento próprio do Sol, vai imantando os direcionamentos norte e sul e deslocando, apontando então para diferentes pontos dessa região da esfera celeste! Esse grande círculo imaginário que se forma é o Grande Ano das Eras! Uma maneira simples de entender esse movimento é soltarmos um pião e o deixarmos girar, girar, girar..... é bem assim.  A estrela que denominamos de Polar, vem atuando como imantação Norte desde há muito tempo e ainda estará fazendo isso por bom tempo adiante.  Porém, um dia no futuro, teremos que renomeá-la... pois não estará mais reinante na posição de Estrela Polar.



É realmente interessante que possamos perceber
 as questões relativas às mudanças de Eras
 em termos de onde caem os Pontos de Equinócios e de Solstícios:

A Era de Gêmeos trouxe o Ponto Vernal a acontecer dentro desta constelação ocupando o lugar de Primavera, Virgem ocupando o lugar do Solstício do Verão, Sagitário ocupando o lugar do Equinócio do Outono e Peixes ocupando o lugar do Solstício de Inverno.



Quadro sobre a Precessão dos Equinócios durante 4 Eras, mostrando o Caminho do Sol contra o pano de fundo das constelações do    Zodíaco.  As cores originais foram invertidas.
Inserido no Artigo “When the Zodiac Climbed into the Sky” por Alexander Gurshtein para a Revista Sky & Telescope edição de outubro de 1995, página 30,  publicada por Sky Publishing Corporation, Cambridge, MA, USA.



A Era de Touro trouxe o Ponto Vernal a acontecer dentro desta constelação ocupando o lugar de Equinócio da Primavera; Leão ocupando o lugar do Solstício do Verão; Sagitário ocupando o lugar do Equinócio do Outono e Peixes ocupando o lugar do Solstício de Inverno.

Permita-me lhes dizer, caro Amigo das Estrelas, que foi naquela Era que surgiu o conceito das Quatro Estrelas Reais, Guardiãs das Quatro Estações do Ano e da Vida:  em Touro, Aldebarã, o olho iluminado, guardiã do Leste; em Leão, Regulus, sua pata dianteira, guardiã do Sul; em Escorpião, Antares, a rival de Marte, Anti-Ars, gigante vermelha maravilhosa, guardiã do Oeste; e finalmente, Fomalhaut, em Pisces Austrinus, guardiã do Norte.

A Era de Áries trouxe o Ponto Vernal a acontecer dentro desta constelação ocupando o lugar de Equinócio da Primavera; Câncer ocupando o lugar de Solstício do Verão; Balança ocupando o lugar do Equinócio do Outono e Capricórnio ocupando o lugar do Solstício de Inverno.


Vega,a estrela Alpha Lyrae, atuou como a estrela polar (há mais de 12 milênios atrás).  Vega estará novamente ocupando o lugar de estrela polar mais uns tantos milênios à frente (14.000 anos DC, ou seja mais 12.000 anos à frente) - sempre a estrela polar mais brilhante!






A Precessão acontece porque as forças gravitacionais do sol e da lua atuam por sobre a Terra (que não é esférica) enquanto esta gira, vagarosamente mudando a orientação do eixo da Terra.  Este eixo, inclinado num ângulo de 23o, traça um caminho em torno da eclíptica ao longo de 25.800 mil anos terrestres na realização de todo seu círculo. Isso significa que Polaris - a estrela que viemos considerando nossa estrela polar  celestial do norte -, vagarosamente irá transmitir sua posição à Vega, a brilhante estrela da constelação da Lira. 

Extraído da revista Astronomy,  edição de junho de 2002, página 73.  Parte do texto foi traduzido literalmente por Janine e também a ilustração sobre o caminho do pólo norte celestial foi invertida, para melhor visualização.





Ficheiro:Outside view of precession.jpg
Precessão dos equinócios conforme visto de fora da cúpula celeste. A mudança do eixo do pólo celestial da Terra num período de 5000 anos (eixo laranja: 3000 AC em Thuban; eixo amarelo: 2000 AD em Polaris) ocorre conjuntamente com uma mudança nos planos equatorial e e consequência, dos equinócios ao longo da eclíptica.
AutorTauʻolunga
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Pequeno Glossário:

Apex  -  um ponto central para onde outro objeto orbita e se move em direção a.
Apex do Caminho do Sol  -  o ponto na esfera celeste em direção ao qual nosso Sol viaja numa velocidade de cerca de 20 quilômetros por segundo.  A posição correta do apex do Sol pode variar entre os cientistas porém é quase acordado que seja em Hércules ou Lyra, Ascensão Reta de 18 horas ou 270 graus e Declinação 34 Norte. (3)
Eclíptica (plano da)  -  Plano da órbita terrestre.  Podemos definir também como o grande círculo de interseção deste plano com a esfera celeste.  O plano da eclíptica é inclinado de 23o27’ em relação ao Equador.
Ponto vernal  -  ponto da esfera celeste, situado na interseção da eclíptica com o equador, na qual o Sol, em seu movimento aparente anual, passa do hemisfério sul para o norte.(....) O ponto vernal é habitualmente designado pela letra y; equinócio da primavera, equinócio vernal, primeiro ponto de Áries.  (1)
Equinócio  -  Ponto da esfera celeste, interseção da eclíptica com o Equador.  O equinócio da primavera corresponde à passagem do Sol do hemisfério austral ao hemisfério boreal.  O equinócio do outono é o caso inverso.  Tais termos se aplicam também aos momentos em que estes fenômenos ocorrem.  Podemos dizer, também, que o equinócio é a data do ano na qual o dia é igual à noite (20-21 de março  -  22-23 de setembro)   (2)
Precessão dos Equinócios  -  o movimento do equinócio consiste em uma retrogradação (ou precessão) sobre a eclíptica, da ordem de 50.256 por ano, ou seja, de uma volta completa do equilíbrio em 26.000 anos  (2)
Solstício  -  é o instante no qual o Sol está mais afastado do Equador (22 ou 23 de junho e 22 ou 23 de dezembro)  (2)  -  Nessas datas, acontecem os solstícios de inverno e de verão.

(1)  -  Atlas Celeste
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
6ª edição  -  Editora Vozes, Petrópolis, RJ, Brasil – 1986
(2) -   Explicando o Cosmos
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Editora Tecnoprint S.A.,  Rio, Brasil, 1984
(3) Norton’s Star Atlas
Arthur P Norton and J. Gall Inglis
Sky Publishing Co.
Cambridge, MA, USA


COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward